ETNOGRAFIA E ETNOMETODOLOGIA – Metodologia científica

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Muita gente confunde etnografia e etnometodologia. A metodologia científica chamada Etnografia bem como o pressuposto metodológico denominado Etnometodologia são os assuntos deste artigo e do vídeo que acompanha logo abaixo. Por fim também será possível verificar diferentes estudos práticos sobre a etnografia e a etnometodologia.

A saber, esta postagem acompanha a playlist de metodologia científica, que você pode acompanhar neste link.

etnografia e etnometodologia
Como fazer pesquisa ETNOGRAFIA E ETNOMETODOLOGIA – Metodologia científica

A princípio, à partir da série de metodologia científica em que há diversas postagens sobre diferentes procedimentos de pesquisa para o TCC, surgiu a necessidade de escrever sobre a etnografia e etnometodologia. Dessa forma essa necessidade veio justamente dos assinantes do meu canal no youtube, em que eu ensino passo a passo como fazer um TCC.

O surgimento da Etnometodologia

Em primeiro lugar, surge na década de 60 a Etnometodologia, corrente sociológica, também desenvolvida nos Estados Unidos. Pregava que a realidade da sociedade era desenvolvida de acordo com o dia-a-dia de cada pessoa. Do mesmo modo pregava, também, que em convivência em união e por intermédio da comunicação diária, constrói a sociedade em que vivemos.

Livro: Estudies in Ethnomethodology

Tem como principal obra literária o livro Studies in Ethnomethodology, de Harold Garfinkel, de tal forma que é considerado o iniciador desse movimento sociológico, a partir do final da década de 1950, nos Estados Unidos. Ademais, o livro inaugural nessa corrente, Studies in Ethnomethodology (GARFINKEL, 1984), foi traduzido e publicado em português, graças ao esforço do grupo de Paulo Gago e Raul Magalhães (2009) na Universidade Federal de Juiz de Fora. Você pode conferir parte deste trabalho conforme neste link.

Para que serve a etnometodologia?

Em primeiro lugar podemos dizer que a etnometodologia serve para estudar todas as ações realizadas pelos membros de um grupo. Conjuntamente a esse estudo, bem como deve-se observar o significado que essas ações têm para esses indivíduos, no intuito de que a partir dessa observação se consiga entender o porquê de se realizar tais práticas.

Em síntese é possível afirmar que a etnometodologia se utiliza do estudo da sociedade, se baseando no cotidiano dos indivíduos, sendo estes vistos sempre como um conjunto de pessoas e não como um ser individual.

De acordo com Alain Coulon (1995, p. 30)  em seu livro “La Etnometodologia” essa corrente sociológica é formada por conceitos-chave que lhe serve de alicerce, são elas:

Conceitos-chave da pesquisa etnometodológica

  • Prática ou realização. A princípio, a “prática” ou também conhecida como “realização”, é a parte da etnometodologia responsável em tratar e estudar as atividades cotidianas dos indivíduos e o modo como estes indivíduos atribuem sentido a essas ações. Assim verifica-se que a etnometodologia busca demonstrar que as leis não interferem nas ações da sociedade. Isto é, na verdade são as ações do dia a dia e o senso comum que criam e modificam as leis.
  • Indicialidade. A indicialidade fala que para os etnometodólogos entenderem o mundo social devem, antes de tudo, estarem conscientes do modo de comunicação que os indivíduos se utilizam para realizarem as suas interações, sendo ela a linguagem. Ou seja, é por meio da linguagem que os indivíduos trocam informações por meio da interação que há em uma conversação. Portanto, a etnometodologia estuda a linguagem dando uma atenção especial para os novos significados que são atribuídos a determinadas palavras ao passar dos anos. A indicialidade fala ainda que esses novos significados atribuídos a essas palavras é dada devido a interação que os indivíduos estabelecem.

Os demais conceitos…

  • Reflexividade.   Em primeiro lugar, a reflexividade refere-se à propriedade reflexiva que os indivíduos exercem sobre os resultados das interações sociais e as influencias que esses resultados geram na sociedade. Ou seja é a parte da etnometodologia que fala que as ações desenvolvidas pelos indivíduos são provocadas a partir da reflexão que é feita das ações realizadas por outrem e das realizadas pelo próprio indivíduo. Segundo o sociólogo Coulon, essas reflexões feitas pelos indivíduos são realizadas de forma instintiva, pois a pessoa a realiza sem que haja a percepção ou vontade para isso, é algo espontâneo.
  • Relatabilidade também denominado accountability.  A relatabilidade também denominado accountability nada mais é do que o modo como os indivíduos descrevem as suas ações e as ações da sociedade, após ter dado a devida reflexividade a estas, ou seja, é a parte da etnometodologia que estuda o modo como os indivíduos descrevem os significados e sentidos constituídos a partir da reflexão realizada desses, servindo assim para fazer com que os significados sejam relatados de modo individual, onde após ser ouvido vários sentidos constituídos chegue-se a um significado comum.
  • Noção de membro. Em conclusão temos a noção de membro, na qual para a etnometodologia membro não é apenas o indivíduo que pertence a um grupo, tendo ainda este que estar composto de vários outros procedimentos para ser determinado como membro de um grupo ou da sociedade. Para que seja considerado como membro deve-se contribuir de alguma forma para a construção social da comunidade a qual pertence participando da interação nela existente, com o tipo de comunicação comum ao grupo em que convive e deste modo contribuindo para dar significação ao mundo em que está inserido.

Um pouco mais…


No lugar de formular a hipótese de que os atores seguem as regras, o interesse da Etnometodologia consiste em colocar em dia os métodos empregados pelos atores para “atualizar” ditas regras. Isto as faz observáveis e descritivas. As atividades práticas dos membros, em suas atividades concretas, revelam as regras e os procedimentos. Dito isto de outra forma, a atenta observação e análise dos processos levados a cabo nas ações permitiriam colocar em dia os procedimentos empregados pelos atores para interpretar constantemente a realidade social para inventar a vida em uma bricolagem permanente (COULON, 2005, p. 34).

Continuando…

As pesquisas são realizadas dessa forma com que os pesquisadores verifiquem como os participantes do grupo em estudo, pela etnometodologia denominados como “membros”, se comportam se utilizando dos seus instintos. Sendo assim esses instintos são para a etnometodologia apena um espelho das referências retiradas do grupo, a partir da interação social realizada pela troca de informações existentes dentro do convívio social.

Os estudos etnometodológicos sobre as estruturas formais se destinam ao estudo de fenômenos como, por exemplo, suas descrições pelos membros, quaisquer que sejam, abstendo-se de todo juízo sobre a sua pertinência, seu valor, sua importância, sua necessidade, sua “praticalidade”, seu sucesso ou consequência. Damos a esse modo de proceder o nome de “indiferença metodológica”. […] A nossa indiferença se refere sobretudo ao conjunto do raciocínio sociológico prático, e esse raciocínio implica inevitavelmente para nós, sejam quais forem as suas formas, o domínio da linguagem natural.” (GARFINKEL; SACKS, 1996, p. 82)

Muito cuidado com a sua observação!

Desde já um dos maiores cuidados que os escritores orientam a tomar é sobre os métodos de coleta de informações a serem utilizados, de modo que esses métodos sejam escolhidos prezando pelas informações reais passadas pelos entrevistados e, além disso, que esses métodos sejam escolhidos de modo que não interfira na obtenção das informações pertinentes a pesquisa.

Para a realização de sua pesquisa, a etnometodologia, logo, se utiliza das técnicas etnográficas para que haja uma melhor verificação dos resultados e para que, se utilizando das metodologias qualitativas que essas técnicas lhe proporcionam. Além de introduz um olhar a mais, indo assim além das técnicas e proporcionando uma investigação mais detalhada, de modo que as técnicas etnográficas lhe dão apenas uma parte dos dados necessários.

Uma peculiaridade da etnometodologia é a de que o pesquisador pode se sentir parte do grupo que está sendo analisado, pois ao longo da pesquisa, para a análise dos dados que estão sendo coletados, seja por entrevistas, diálogos ou anotações ele pode se utilizar da auto-reflexão para que se chegue a uma conclusão. Deste modo ele está fazendo um estudo e ainda sendo parte desse estudo, pois está se utilizando das suas experiências de vida para que com isso tente entender as ações realizadas pelo grupo de uma visão única, a dele. 

Estudos em etnografia e etnometodologia concretos

Como pesquisar mais referências?

A fim de ajudar no seu TCC, se você está em busca de mais referências sobre a etnografia e a etnometodologia, e não sabe direito como fazer buscas na internet (em sites confiáveis) vou indicar dois vídeos que vão ajudar muito nas suas pesquisas.

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS SOBRE ETNOGRAFIA E ETNOMETODOLOGIA

HERSKOVITS, M. J. Antropologia cultural: o homem e seu trabalho. São Paulo: Mestre Jou, 1963. p. 98-108.

LEACH, E. A diversidade da antropologia: perspectivas do homem. Lisboa: Edições 70, 1982.

GUALDA, D. M. R. Eu conheço minha natureza: um estudo etnográfico da vivência do parto. São Paulo, 1992. p. 185. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo.

BRAGA, C. M. L. A etnometodologia como recurso metodológico na análise sociológica. Ci. Cult., v. 40, n. 10, p. 957-66, out. 1988.

BERNARDI, B. Introdução aos estudos etno-antropologicos: perspectivas do homem. São Paulo: Edições 70, 1974. p. 50-61.  

Resenha do livro: Os Estudos de etnometodologia de Garfinkel: uma investigação sobre os alicerces morais da vida pública moderna http://www.scielo.br/pdf/se/v33n2/0102-6992-se-33-02-00443.pdf

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About the Author

Ivan Guedes

Prof. Dr. Ivan Claudio Guedes, Geógrafo e Pedagogo. Professor de Geografia na educação básica e Docente do curso de Pedagogia no Ensino Superior Coloca todo o seu conhecimento a disposição de alunos acadêmicos, pesquisadores, concursantes, professores, profissionais da educação e demais estudantes que necessitam ampliar seus conhecimentos escolares ou acadêmicos.

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