SARESP: INDICADOR DE QUALIDADE OU PARANOIA PEDAGÓGICA? PARTE II

Compartilhe com seus amigos

SARESP: INDICADOR DE QUALIDADE OU PARANOIA PEDAGÓGICA? PARTE II

Avaliação do ensino e da aprendizagem de forma quantitativa, nem sempre reflete a realidade do ensino

 

SARESP Indicadores de qualidade ou paranoia pedagógica

SARESP Indicadores de qualidade ou paranoia pedagógica

Em novembro de 2012 escrevemos a primeira parte deste artigo em que abordamos a questão da supervalorização do SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar de São Paulo), que estava para ser aplicado naquele mês, pelo Governo do Estado de São Paulo (http://www.gazetavaleparaibana.com/060.pdf).

Neste mês de Março ou meados de Abril os dados serão divulgados amplamente pelas mídias apresentando os resultados auferidos pela avaliação. No entanto, o que se pretende discutir dessa vez a conotação “meritocrática” que é conferido ao IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo).

O IDESP é confeccionado a partir da fórmula, IDESP = IDS X IFS, onde a variável: Índice de Fluxo (IFS) representa a taxas de reprovação e de evasão escolar e o Índice de Desempenho (IDS) representa a nota do SARESP.

Deixando de lado as elucubrações matemáticas, sabemos que as avaliações escolares medidas por índices e regidas por metas não é novidade no contexto da administração escolar mundial. As orientações do Banco Mundial para o Desenvolvimento da Educação (Learning for All: Investing in People’s Knowledge and Skills to Promote Development, disponível em:  http://www.worldbank.org/education..), FMI (http://www.imf.org) e a Carta da Unesco para a eduação no século XXI (http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/home/), deixam muito claro a conjuntura mercadológica e administradora que a educação (em países que cumprem a cartilha do sistema neoliberal, como o Brasil) devem implementar em seu sistema educacional. A premissa é bem básica: os baixos índices devem ser difundidos por toda a sociedade para que fique expressa a ineficiência do Estado com a educação. A solução? Partir para as Parcerias Público-Privadas e para a privatização do sistema (cf LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSHI, 2012).

A ideia é desobrigar o Estado dessa função, o que é contraditório com a nossa Carta Magna. Temos aí um imbróglio, um nó que não se consegue desatar, pois se de um lado o Estado é obrigado a cumprir o que está na constituição, por outro lado se vê na contingência de cumprir a cartilha do neoliberalismo e se não cumprir as “torneiras do dinheiro fácil” se fecham.

O sistema de meritocracia foi importado desastradamente da cidade de Nova Iorque (EUA), em que foram estabelecidas metas para os docentes cumprirem. Implementado entre 2007/2008, em 2011 estudos confirmaram que não existe relação entre a qualidade do ensino e a bonificação de professores, e cancelaram este projeto. No Brasil, a ideia ainda soa como inovadora, e tem ao seu lado vários economistas apaixonados pelo sistema neoliberal que creem piamente no que está escrito nas cartilhas do Banco Mundial, da Unesco e do FMI, e que ecoam a quatro cantos esses escritos. O governo, por sua vez, é obrigado a ceder, pois não tem força política, ideológica ou de plano de governo para fazer valer o seu Estado de Bem Estar Social.

Bem sabemos que a bonificação faz parte do assistencialismo promovido, assim como as diversas bolsas-auxílio, pelas ideias neoliberais

 
“O estudo em Nova York aponta que o sistema não mudou as práticas docentes. Uma das conclusões é que o professor que recebe bônus entende que apenas foi recompensado pelo esforço que sempre teve – e não que tenha buscado melhorar”. (SIC) – Folha.com -20/07/2011.
 
Como entendemos aqui não é muito diferente, além de que somos controlados por um pacote matemático não muito acessível aos próprios professores de matemática ( alguém já teve a curiosidade de saber a teoria por detrás dos índices?). Resta aos professores uma explicação mais simples: – índice de desempenho advém do Saresp e o índice de fluxo (como explicado resumidamente acima) serve para penalizar e obrigar as escolas a empurrarem os alunos adiante, aptos ou não a cursarem a serie seguinte.
 
Que culpa têm os professores se os alunos se evadem da escola? Pedagogos-economistas de plantão, dirigentes de ensino, supervisores, diretores de escola e coordenadores dirão, na sua maioria, que a escola não oferece aulas interessantes ou que a escola não é atrativa a esses alunos.
 
 Que culpa têm os professores quando pais irresponsáveis preferem ver seus filhos muitas vezes pedindo esmolas num semáforo do que na escola? Que culpa têm, os professores, se muitos precisam sair da escola para partir para o mercado de trabalho? Que culpa têm os professores se a bolsa família é dada a qualquer um desde que não falte na escola, sem se importar se esse aluno adquiriu algum conhecimento ou não? Então tudo isso não é levado em conta, ou melhor, é colocado na responsabilidade da escola e dos professores.
A quem o sistema educacional e econômico quer enganar? Isto não funciona e deveria acabar ou ser reformulado. Professores não são valorizados e muitas vezes nem plano de carreira possuem. A priori, a suposta esperança de ganhar algumas migalhas a mais cria um cabresto com um único objetivo para o professor: conseguir o bônus.
 
 Ora, o Saresp não tem nenhum objetivo senão produzir o índice de desempenho para compor o IDESP. Todos sabem disso, inclusive os alunos. Daí a ser divulgado pela mídia que serve para dar bônus aos professores foi um passo. E é assim que a massa leiga e desavisada entende, então que interesse tem o alunato em produzir uma prova com um bom desempenho? Tirando uns poucos, poderíamos dizer que ninguém, pois é fato que muito dos alunos, não querem “dar bônus aos professores”.
 
Logicamente, diante disso tudo, só podemos reafirmar o que já havíamos dito: – isso tudo virou uma paranoia pedagógica, onde, como asnos, perseguimos uma cenoura na vã esperança de alcançarmos um resultado que será, e o é, derrubado pelo índice de fluxo e novamente servirá para ajudar a denegrir a escola pública.
Artigo originalmente publicado no jornal Gazeta Valeparaibana. Ed. 64, Ano IV, Março de 2013. p. 9.
Referência:
LIBÂNEO, J.C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar. Políticas, Estrutura e Organização. 10 ed. São Paulo: Cortez, 2012.
Omar de Camargo
– Técnico Químico – Professor em Química.
– Pós Graduado em Química.
Ivan Claudio Guedes
– Geógrafo e Pedagogo. Especialista em Gestão Ambiental, Mestre em Geociências e doutorando em Geologia.
Compartilhe com seus amigos

About the Author

Ivan Guedes

Prof. Dr. Ivan Claudio Guedes, Geógrafo e Pedagogo. Professor de Geografia na educação básica e Docente do curso de Pedagogia da Faculdade Progresso. Coloca todo o seu conhecimento a disposição de alunos acadêmicos, pesquisadores, concursantes, professores, profissionais da educação e demais estudantes que necessitam ampliar seus conhecimentos escolares ou acadêmicos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.